21 de novembro de 2010

Assombro dos homicídios

   A sociedade, ou pelo menos sua parcela que goze de senso crítico, racionalidade e acesso à educação, necessita de esclarecimentos sobre os homicídios. Trata-se de um tema que, como tantos outros da área criminal, não comporta abordagens e opiniões baseadas exclusivamente no senso comum, e é de diferenciada relevância à coletividade, vide a previsão legal de realização de júri popular em casos de crimes dolosos contra a vida.
Não se pode tolerar em certos níveis as manifestações de caráter emotivo, popularesco ou politiqueiro, sem considerar as razões verdadeiramente vinculadas a esse crimes. É inaceitável que jornalistas, autoridades, juízes, personalidades e outros cidadãos mais publicamente expressivos encontrem espaço para divulgar opiniões abusivamente amadoras, sem embasamento científico, técnico, profissional.
A capa de VEJA desta semana vale como uma iniciação a quem eventualmente ainda compreenda os assassinatos como romantismo indevido. Há crimes cuja motivação e circunstâncias “explicam mas não justificam” o ocorrido, enquanto outros evidenciam facetas obscuras da perversidade humana, os quais não são dignos de clamor ou piedade misericordiosa.
Neste viés podem constar, por exemplo, os casos de reincidência, com frequência incômoda, de homicídios praticados por presidiários durante saídas em indultos. Sabe-se que não é fácil sondar devidamente a consciência de quem está sendo solto, mas será que há um mínimo de preocupação neste sentido por parte de quem assina os papéis que concedem a liberdade, ainda que temporária, destes meliantes?
Não se pretende aqui fomentar a perpetuação da prisão, não comportada no atual ordenamento jurídico, tampouco propor violações aos direitos humanos na prisão – chega de barbárie, a trilha rumo à plena civilização passa longe da selvageria. O ideal é promover justiça avaliando cada caso isoladamente, estudando-se com dedicação, em busca de compreender se por trás daquela arma, seja uma unha ou explosivo, havia um psicopata doentio, um criminoso irrecuperável, ou cidadão dominado pela emoção.
E a prevenção do homicídio, como se dá? Em muitos casos, é impossível interromper a prática para a polícia ostensiva, não há como patrulhar o interior das casas, onde muitas vezes se consuma a conduta. A Justiça pode limitar liberdades, fechando bares em determinado horário, o que, seguramente, acarreta na redução imediata de certos índices, mas é só através de restrições que se terá êxito? E se as condenações fossem mais céleres e anunciadas, e se as investigações fossem mais rápidas e conclusivas?
Mais seriedade, esclarecimento e compromisso nessa área certamente evitaria, por exemplo, manchetes imorais condenando previamente quem ceifou vidas cumprindo seu dever, protegendo a vida própria ou de outros. Talvez pouparia a interrupção do viver de quem está jurado, confiando nas autoridades que, por força de lei ou motivos menos nobres, põem em liberdade indivíduos inaptos ao convívio social. Quem sabe desestimularia ainda candidatos ao ofício de “pistoleiro”. O certo é que, da maneira como se está conduzindo a matéria atualmente, a trilha leva a um rumo mais assombroso do que deleitoso.
   Essa matéria foi extraída do excelente blog: www.abordagempolicial.com

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