28 de fevereiro de 2012

Três episódios de uma polícia brasileira


Já madrugada, e a guarnição fazia rondas na cidade quase vazia. Àquela hora, lá para as três da matina, apenas lugares frios como a rodoviária e alguns bares sujos estavam funcionando. Havia ainda travestis desfilando seus escândalos sob as luzes amarelas dos postes.
A guarnição enveredou a viatura em um desses bairros médios, entre a periferia e o centro. Resolveram abordar um sujeito de gorro e colete preto, que se identificou como vigilante do bairro. Estava armado, com um revólver frio (sem registro).
Conduzido à delegacia, o preso foi tratado peculiarmente pelo delegado: não foi detido, conversas amenas, telefonema preocupado. O vigilante trabalhava para um PM, proprietário de uma empresa de segurança. O comandante da guarnição ouvira, sem querer, o doutor falar: “esses caras são escrotos, nem os próprios colegas consideram“.
Os autores da prisão nunca prestaram esclarecimentos à justiça sobre a prisão.

- Senhor… Perdoe. Mas não há como dirigir a viatura do jeito que está. Os pneus estão carecas, a marcha não entrando…
- Deixe de criar problema… Com boa vontade dá pra trabalhar. Quando precisa, nós ajudamos. Só é ter boa vontade. Só é ter boa vontade…
- Sim senhor!
[horas depois]
- Próxima escala, já sabe: coloca aquele problemático na escala do policiamento a pé.
- Mas ele faz faculdade no horário desta escala…
- Problema dele. Não tava reclamando!?
- Sim senhor!
É confraternização no Batalhão: aproveitando a época de carnaval, foi feita uma parada com toda a tropa; e agora todos estão aproveitando a piscina do melhor clube da cidade, almoçando o churrasco doado por empresas parceiras da polícia local. Naturalmente, não há ranchos (refeitórios) nos clubes civis, mas um detalhe, entretanto, gera curiosidade: tal qual estivessem em ranchos, as divisões nas mesas prevalecem: mesas apenas com oficiais superiores, mesas de oficiais subalternos, mesas só de praças – de um lado os que trabalham na rua, do outro, os que trabalham nas repartições.
É carnaval no Batalhão, mas cada um desfila em seu bloco.
*Estas cenas são descrições meramente fictícias, possíveis de ocorrer, entretanto, em qualquer polícia brasileira.

* Matéria extraída do site:  ABORDAGEM POLICIAL

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